O INÍCIO
E O VALOR DOS SELOS E PEÇAS FILATÉLICAS
Escrever. Atividade indispensável à
todos os seres humanos nos dias atuais. No passado, não
muito distante, entretanto, poucas
pessoas sabiam escrever. Para deter o PODER, monarcas, imperadores,
déspotas e sultões precisavam comunicar-se com
precisão e rapidez. Detinham um serviço particular
de cavaleiros, treinados para enviar mensagens escritas e poucas
pessoas podiam comunicar-se através da palavra escrita.
Para garantir o recebimento de uma mensagem, muitas vezes, dois
estafetas percorriam grandes distâncias por caminhos diferentes
para, no final, chegarem ao mesmo lugar.
Até 6 de maio de 1840, o pagamento das mensagens escritas,
para o cidadão comum, era realizado após a prestação
do serviço e em função da distância,
ou seja, pelo destinatário. Após esta data, a Grã-Bretanha
passou
a empregar o selo postal adesivo, que indicava o pré-pagamento
da mensagem escrita circulada. Para anular esta tarifa o selo
postal levava um carimbo. No Brasil, isso passou a acontecer
também à partir do dia primeiro de agosto de 1843,
nosso Dia do Selo Postal, o mesmo onde aconteceu o lançamento
do selo postal adesivo no Rio de Janeiro (a Corte). Lembre-se
que, na época, não havia meios de comunicação
elétricos e eletrônicos e, em São Paulo,
por exemplo, o selo postal chegou apenas em novembro de 1843.
Quanto mais distante da Corte, mais demorou para a implementação
do selo postal adesivo.
O SELO
SERVIDO
O selo anulado mediante a aplicação de um carimbo,
geralmente indicando a cidade de origem da missiva, deveria ter
um destino
certo: O LIXO. Da mesma forma como jogamos fora passagens aéreas,
de trem, ônibus e metrô após o seu uso, o
mesmo deveria ter acontecido com o selo postal servido, carimbado.
ISTO, ENTRETANTO, NÃO ACONTECEU. QUAL A RAZÃO?
Em 1860, Moens editou um livro com a ilustração
de todos os selos postais emitidos no mundo até aquela
data, atribuindo valores para selos com e sem carimbo (novos).
Claro que este livro funcionou e diversas pessoas passaram a
NÃO JOGAR FORA os selos servidos e os novos. Nascia, desta
forma, a FILATELIA, que deve a sua existência aos primeiros
comerciantes filatélicos do século retrasado, passado
e presente. São os comerciantes filatélicos espalhados
pelo mundo que formam, estimulam e promovem a filatelia tradicional,
temática e a história postal. Deve-se ao famoso
Robson Lowe a patente do termo "história postal".
Atualmente, existem colecionadores de cédulas, cartões
telefônicos, etc., e tudo começou com um CATÁLOGO
DE SELOS. Hoje coleciona-se, inclusive, as cartas e peças
circuladas antes do selo postal, que chamamos de PRÉ-FILATELIA.
PRÉ-FILATELIA
NO BRASIL
Das 3 primeiras peças pré-filatélicas da
História Postal Luso-brasileira, apenas a famosa carta
de Pero Vaz de Caminha continua a existir. As duas outras, uma
de Cabral ao Rei e outra do Capelão da frota, perderam-se
no terremoto de 1755 ocorrido em Lisboa/Portugal. Pode-se perceber
que a História de uma Nação está
intimamente ligada à pré-filatelia, registro vivo
dos fatos de outrora. Passeando pela nossa História Postal,
da era pré-filatélica até os dias de hoje,
um longo caminho foi percorrido. A era dos Correios-Mores sob
domínio Real, sob a guarda da família Gomes da
Mata, após a Revolução Francesa, a vinda
da família Real Portuguesa ao Brasil em 1808, a Independência,
as Guerras e Revoluções (Independência, Farrapos,
Cisplatina, Pernambucana, etc.) enfim, a filatelia e a pré-filatelia
REGISTRAM TUDO. Até desastres aéreos, terremotos,
campos de concentração, genocídios, greves,
guerra fria, espionagem, temos na filatelia. É um mundo
de conhecimento. O seu mundo, o nosso mundo por escrito, circulado
e estudado e sem versões, opiniões. Enfim, a História
de VERDADE.
Neste exato momento, assisto televisão e vejo o narrador
citando o terremoto ocorrido em 1923 no Japão, onde 143.000
pessoas faleceram. Para um filatelista, isto não é
novidade, e lembro que tenho uma peça circulada registrando
exatamente este fato triste e inesquecível. Veja ilustração
a seguir.
A pré-filatelia brasileira apresenta cerca de 250 marcas
postais diferentes (carimbos de origem da missiva) e o pagamento
era realizado no destino, após a prestação
do serviço. Nos Estados Unidos da América do Norte
existem, no mesmo período (de 1766 a 1843), mais de 10.000
marcas diferentes. Basta conhecer isso para perceber que o velho
mundo, a Europa, optou pela colonização da América
do Norte, onde milhares de pessoas migraram, SABENDO ESCREVER.
Pense e responda rapidamente: Qual o país mais rico e
poderoso do mundo ? A pré-filatelia já respondeu.
Apesar disso, nós tivemos selos postais emitidos antes
dos EUA, sendo responsável por isso Napoleão Bonaparte,
ordenando a invasão de Portugal, antigo aliado da Grã-Bretanha,
por Junot. Por isso, D.João VI partiu para o Brasil em
32 embarcações. D.João VI foi corajoso e
não fugiu, como insinuam alguns historiadores. Ele preparou-se
para tal empreitada e trouxe consigo máquinas de impressão
e uma Corte com 15.000 pessoas. Ele foi o único soberano
europeu que teve coragem para tal missão, chegando ao
Rio de Janeiro, após uma estadia em Salvador, com
tantas pessoas. O Rio de Janeiro tinha na época 80.000
habitantes e o choque cultural e étnico foi imenso. Por
isso, claro, pagou um preço muito alto, e acredito que
estamos pagando esta fatura até os dias de hoje.
As máquinas de impressão começaram a imprimir
selos fiscais, dinheiro, etc. e, no dia 6 de agosto de 1843,
eram vendidos os famosos Olhos-de-Boi. Tornou-se assim o Brasil,
o segundo país a emitir um selo postal com valor de franquia
para todo o território nacional.
Foram impressos selos nos valores de 30, 60 e 90 réis,
com a finalidade de cobrir as tarifas pré definidas da
seguinte forma:
PESO |
TERRA |
MAR |
Não
excedente à 4 oitavas |
60 réis |
120 réis |
de 4
à 6 oitavas |
90 réis |
180 réis |
de 6
à 8 oitavas |
120 réis |
240 réis |
|
Acabava, desta forma, a cobrança
do serviço em razão da distância percorrida.
Terminava, também, a desculpa do destinatário,
que dizia não ter dinheiro para pagar, quando as vezes
recebia em forma de código a mensagem do lado externo
da sobrecarta.
Falamos sobrecarta, pois o envelope foi inventado em 1830 nos
EUA e só chegou ao Brasil no final de 1860. A sobrecarta
era uma folha de papel dobrado e fechado com lacre e muitas vezes
o próprio selo postal servia de fecho da missiva. É
por essa razão que os Olhos-de-Boi e as emissões
seguintes são escassas, quando sem rasgo, sobre estas
antigas correspondências. Estima-se que não existam
mais do que 150 cartas (ou sobrecartas) contendo Olhos-de-Boi
intactos e em bom estado. Da mesma forma que um diamante, num
determinado peso, pode valer entre 1 e 100, os selos postais
antigos, dependendo de seu estado de conservação,
podem ter o valor entre 1 e 100.
Da
mesma forma que você não compra um Diamante na porta
de casa ou numa feira livre, pois fica difícil distinguir
uma pedra autêntica de uma falsificação,
o mesmo acontece com selos postais antigos (caros ou não).
Exija uma garantia, um certificado e procure um comerciante estabelecido
e de preferência de competência reconhecida.
Uma das perguntas mais freqüentes entre os não filatelistas
é: Quanto vale um Olho-de-Boi. Para os interessados, podemos
fornecer uma cópia desta matéria, publicada na
revista SAMMLER em 1991. O verdadeiro filatelista deseja saber
o valor. Por outro lado o valor não é o mais importante.
Para o verdadeiro filatelista o valor é um obstáculo.
O VALOR DE
UM SELO OU DE PEÇA FILATÉLICA
HISTÓRICO
O selo postal, da mesma forma como o Hino Nacional, a Bandeira
Nacional e a Moeda de um País, significa INDEPENDÊNCIA,
RECONHECIMENTO e LIBERDADE. O selo postal constitui elemento
fundamental de um Estado livre e independente e seu reconhecimento
é feito, pela UPU - União Postal Universal. A criação
da UPU partiu da iniciativa de Heinrich von Stephan (1831-1897)
e teve como ponto de partida o Congresso de Berna/Suiça
em 1874. Até os dias atuais, um país livre e independente
é reconhecido pelo ponto de vista postal pela UPU. A violação
deste direito do cidadão acontece quando a falta de liberdade,
a invasão e o domínio estrangeiro se estabelece.
FINANCEIRO
A maioria das pessoas acredita que o valor de um selo postal
está na TIRAGEM do mesmo. Não é bem assim.
Vejamos as razões:
Num mercado onde 2000 pessoas desejam um selo postal o que importa
se a tiragem do selo foi de 10 mil ou 1 milhão? E num
mercado de 50 mil potenciais compradores e apenas 100.000 ou
1 milhão de selos? Pouco importa, teremos selos para TODOS
e claro, nunca haverá valorização alguma
e não poderia ser de outra forma. É exatamente
isso que acontece com
os selos comemorativos, com tiragens definidas, pouca circulação
e pouco desperdício. Com muitos selos novos e poucos interessados,
poucas serão as chances de uma eventual valorização.
O mesmo acontece quando a tiragem ou a sobra de um selo é
de apenas 100 exemplares e 10 pessoas colecionam esta área.
Assim sendo, o valor de uma peça depende da relação
entre o número de interessados em relação
ao número de peças disponíveis, considerando-se,
ainda, se estes interessados terão disposição,
vontade, disponibilidade financeira e tempo para comprar a referida
peça. Para ser mais claro, vou exemplificar com automóveis:
muitas pessoas desejam adquirir uma Ferrari, carro escasso no
Brasil, e muitas podem e não querem, enquanto outras querem
e não podem. Caso a Ferrari aumentasse a tiragem, mesmo
assim, o número de candidatos no Brasil não aumentaria
consideravelmente, pelas mesmas razões expostas anteriormente.
CATÁLOGO
DE SELOS E A ÉTICA NA INTERNET
O Catálogo de Selos é fundamental para o filatelista.
Como vimos anteriormente, foi por causa da emissão de
um deles que nasceu a filatelia, como a conhecemos atualmente.
Por outro lado, o Catálogo de Selos não pode ser
visto como uma camisa de força nos preços praticados.
O mercado é muito mais dinâmico e se de um lado
existe descontos, promoções, leilões, do
outro, existe diminuição de oferta, escassez de
peças boas. Em determinados setores da filatelia brasileira,
o nascimento de dois ou três colecionadores, ou a morte
de um único pode alterar o valor filatélico de
uma peça, por incrível que pareça.
Na INTERNET, podemos observar que existe a falta de ética,
quando pessoas tentam vender objetos que valem 10 por 1000 e
que quando questionados respondem: "o mercado é livre,
não se meta. Você pensa que é o paladino
da filatelia?"
Não, apenas editamos o Catálogo de Selos do Brasil,
que existe há 58 anos. E se você analisar com calma,
verificará que a relação de valores impressos
ao longo destes anos não mudou muito, principalmente na
parte chamada clássica. Um 60 réis Olho-de-Boi
com carimbo está cotado há dezenas de anos pelo
mesmo valor que um 1.000 réis Pão de Açúcar
(número
69) de 1888 novo. Claro que no Catálogo existem erros
nas cotações. Seria quase impossível acertar
mais de 15.000 cotações de selos e peças
diversas. Mesmo assim, deve-se manter uma ética, seja
no valor, na qualidade e principalmente na autenticidade de um
selo. Aprendi isso há muito tempo e sendo comerciante
filatélico, tenho meus fornecedores habituais, tanto no
Brasil como no exterior.
Procure fazer o mesmo, e desejo que encontre no caminho um bom
comerciante que saiba orientar, ensinar e fazer você crescer
na filatelia. A linguagem desenvolvida entre estas pessoas, a
amizade e a troca de conhecimentos, será imensa e, como
dizem na televisão, "EXISTEM COISAS QUE O DINHEIRO
NÃO COMPRA... (na filatelia seria a confiança,
o aprendizado, a seriedade e a companhia)... PARA TODO O RESTO,
EXISTEM CARTÕES DE CRÉDITOS, CHEQUES E DINHEIRO".
Boa sorte.
Eng. Peter Meyer
Membro do Club D'Elite da Filatelia de Mônaco, é
editor dos Catálogos de Selos do Brasil, nosso colaborador
e comerciante filatélico. Atualmente, está dirigindo
a RHM Filatelistas, estabelecida no dia 20 de agosto de 1951.
Também é autor do Catálogo Enciclopédico
de Selos e História Postal do Brasil e do Catálogo
de Inteiros Postais do Brasil |
|
voltar |